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Meu cérebro não é uma maquina, mas a metáfora funciona

Meu cérebro não é uma maquina, mas a metáfora funciona

por vítor norton, em 28/01/2024

Meu cérebro não é uma maquina, mas a metáfora funciona

Se você entende minimamente como um computador funciona: que processadores se aquecem de acordo com a demanda de solicitações para ele e este é o motivo de seu notebook aquecer enquanto você trabalha num dia muito quente de verão, você já sabe tudo que precisa para este texto.
Eu tenho um Surface Book, de primeira geração, o processador é o i7 da sexta geração. Estamos na 14ª! As aplicações de hoje estão mais pesadas e portanto ele começa a sofrer. Eu tinha sempre aberto o Gerenciado de Tarefas, que permite visualizar a porcentagem de uso dele. Era abrir alguma aplicação (o Gerenciador de Tarefas é um dos piores) que vai para 80 ou 100% de uso. Nisso a ventoinha começava, e apesar de ser um computador mega confortável para trabalhar, dava para perceber que o ambiente estava mais aquecido.
Me adaptei ao uso, uma tarefa de cada vez. Quando abria o navegador, deixava ele lá por uns 2 minutos até ele encerrar todas as suas tarefas, seja sincronização, seja extensões. Não importa. Só depois desse tempo começava a usar, controlando muito para não abrir muitas abas. E funcionava, conseguia fazer o que queria. Quando ficava muito quente novamente, parava um tempo. Ia tomar um café, andar um cado.
Quando voltava, não tinha a chance de dar um clique errado. Se abrir aquela aba sem querer, já era, é o fim. Vai começar tudo de novo e eu nem queria mexer nisso agora. Desesperado você faz o que? Continua dando cliques errados e só piorando a situação. Daí tinha que ir no Gerenciador de tarefas, e eliminar um monte de coisa. As vezes, liberando mais memória, resolvia. Percebia que abria e estava com quase 90% de uso. Reduzia até 50, que era o normal. Mas se queria realmente me preparar para focar em algo, eliminava mais tasks ainda, e conseguia reduzir o uso da memória para até 30% da capacidade. O alivio que era.
As vezes, no entanto, ficava tão imerso no trabalho que ia abrindo mais do que ele aguentava, e graças ao Windows (certeza que vai vir alguém falando que Linux eu não teria esse problema, mas não é o ponto deste texto, tá legal?), ele colocava algumas aplicações em suspenção, assim podia continuar com o fluxo de trabalho. Quando volta-se para aquela aplicação ele retirava da suspenção e daí volta a esquentar tudo.
Este é um problema fácil de resolver: comprei um notebook novo.
Porém, a minha cabeça ansiosa funciona igual e não é como se eu pudesse simplesmente comprar um cérebro de uma geração mais atual que processa as coisas em uma velocidade maior e gosta da instantaneidade das coisas (aka: geração TikTok).
Eu gosto de ser multitasking, de estar trabalhando com várias coisas diferentes. Faz parte da maneira como fui criado, como sou e também faz parte do meu trabalho: lidar com vários projetos simultaneamente. Eu gosto. Ja me senti culpado por gostar, afinal é o capitalismo que faz isso com a gente, não é mesmo? No meu caso não sei se faz sentido isso (coisa para terapia).
Mas percebo que o comportamento é o mesmo. Tenho uma fila de itens a serem realizados, um backlog. Cada um com sua prioridade, uns demandam mais, outros menos. Tento gerenciar a entrega de tudo da melhor forma possível, as vezes fazendo as que são super rápidas primeiro para diminuir a fila, outras vezes pegando a mais difícil mesmo.
Claro, não sou uma máquina, as vezes a prioridade de algo será mal entendida, não irei completar com sucesso, ou simplesmente esqueço. Por isso me tornei uma pessoa depende de uma organização e metodologia. Funciona pra mim.
Percebo que as vezes começo uma tarefa, e minha cabeça vai ficando mais pesada, quente. Não sei se é algo da cabeça (olha o trocadilho aí) hehehe. Deixa eu fazer essa frase novamente, não sei se é noia minha, mas eu realmente sinto minha cabeça aquecendo a ponto de chegar ao ponto igual o processador do notebook: eu termino a task atual e daí preciso parar por um tempo. Então desligo.
Seja um episódio de uma série, seja um banho, seja sair de casa, ou só ficar atoa no sofá. Algo que me tire dali. Eu só volto quando sinto que acalmou.
Tem duas coisas que eu já percebi em mim: eu estresso muito uma situação antes dela acontecer e tenho hiperfoco, explico.
Quando tenho uma ideia, ou um projeto, eu gosto de pensar muito sobre ele (sim preciso equilibrar o quanto dedico a só pensar vs realmente fazer, tópico pra outro post), gosto de pensar cenários que não vai funcionar, de ter opiniões diversas, de deixar marinar. O resultado é ter algo mais maduro, e quando coloco a mão na massa na task, já está mais “profissa”, saca? Sinto que entreguei algo melhor do que se eu simplesmente tivesse sentado e tendo feito sem passar por esse processo.
Isso significa que as vezes, eu tenho uma tarefa a fazer, por exemplo, um artigo num blog. Eu penso o tópico, daí eu vou fazer algo diferente. Deixo em paralelo, rodando, raciocinando. Até que marinou tempo suficiente (simplesmente sei quando é a hora), e daí geralmente sai algo que particularmente me orgulha.
As vezes é o hiper foco, o que ajuda no caso acima. Mas quero trazer o incômodo do hiper foco que é você ter de fato finalizado uma tarefa, ela está 100% concluída. Não há nada mais o que fazer sobre ela. Digamos: você já lavou a louça, e tá uma hora com isso na cabeça ainda como se ainda tivesse lavando ela.
Pois é, junta tudo isso, minha cabeça é sobrecarregada. Assim como processadores de computadores, é possível dar manutenção e garantir o bom funcionamento da sua mente. Seja ir na terapia, psiquiatra, caminhar, conversar com amigos, comer um chocolate, enfim… Eu tenho tentando deixar tudo funcionando perfeito aqui, mas é engraçado como as coisas funcionam. As similaridades da minha mente com o meu notebook.
Acabei de finalizar uma tarefa que estava comigo há semanas. A cabeça já estava quente quando terminei, mas abriu espaço para entrar algo. Dei o clique errado na aba da minha mente, e sem querer abri um monte de coisa, o círculo se inicia novamente.
Desde o fim de 2022 tenho um compromisso com minha sanidade mental: não pegar nada novo. Não adicionar nada nesta lista de tarefas, controlar melhor as prioridades. Uma hora, eu vou de fato conseguir encerrar a quantidade de processos que estão suspensos pelo meu kernel, e aqueles que ficam em background. E tudo vai fluir normalmente.