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Adeus ao Windows Insider MVP

Adeus ao Windows Insider MVP

por vítor norton, em 02/11/2023

Adeus ao Windows Insider MVP

Uma terça feira e eu na corria normal de uma terça feira, uma notificação de um e-mail do programa Windows Insider MVP da Microsoft. Não sei o que fez eu entender que aquele email era importante, mas eu sabia. Talvez o tempo que demorou entre este e-mail e o último, ou talvez por eu já estar percebendo um esfriamento das coisas. O assunto “Important Updates to the Windows Insider MVP Program”, e eu já sabia - antes mesmo de ler o assunto - sobre o que o e-mail era.
Era o fim, acabou. “Depois de pensarmos muito, nós decidimos encerrar o programa Windows Insider MVP, a partir de 31 de Dezembro” (em tradução livre). Ok, vida que segue.
Foi um sentimento misto, de um lado estava triste de não receber o convite para o Microsoft Summit, que é o principal evento dos MVPs lá na sede da Microsoft, mas honestamente, esta é a parte triste. Nada mais. Tenho orgulho e felicidade de ter entrado no programa desde a sua primeira premiação e ter permanecido até o último dia, e é este o sentimento que fica comigo.
Mas afinal, o que é o Insider MVP? Não é o Microsoft MVP? Recebo diversas perguntas como essas e quase nunca consigo responder o que isso significa, especialmente para mim. Mas aqui vai uma última tentativa.
Estou a quatro anos morando em São Paulo, isto significa que estou a quatro anos me engajando com a comunidade aqui, o que por sua vez significa que estou a quatro anos falando pra alunos, mentorados e pra comunidade, que quem está nessa cidade tem uma oportunidade única.
Cresci numa cidade do interior de Minas Gerais de quase 30 mil habitantes, minha graduação foi em uma cidade um pouco maior 100 mil, numa região que por vezes é esquecida que faz parte do sudeste do Brasil - o Espírito Santo. E apesar de lá ter movimentos crescentes de comunidades de tecnologia, as empresas ainda não estão tão evoluídas tecnicamente quanto São Paulo, e tudo bem. Funciona pra região, mas não funcionava pra mim.
Estava aprendendo o que era me passado na faculdade (na época tecnologias arcaicas) e o que tinha nas empresas. Em 2015 o futuro lá parecia ser TortoiseSVN e AspNet Web Forms com jQuery. Era o que estava aprendendo, o que esta sendo ensinado e o que estava sendo usado. Não tinha recursos para sair disso.
Porém, em 1º de Outubro de 2015, recebi o Microsoft Most Valuable Professional, o MVP.
Tá… pequena interrupção na linha de raciocínio aqui pra fazer um disclaimer: este texto tem apelo nostálgico! Em 2015 eu não tinha ideia do que isto representava, nem que formaria críticas sobre o programa. Poderia fazer um texto com algumas críticas, mas iria parecer que estou chorando as pitangas. Em 2016 meu ciclo com o Microsoft MVP se encerrou e fui para um outro programa: Insider MVP. Neste texto irei focar exclusivamente nesta minha jornada.
Porém, em 1º de Outubro de 2015, recebi o Microsoft Most Valuable Professional, o MVP. Era um sonho alcançado e talvez tenha sido um dos meus melhores dias. Era um reconhecimento. E eu realmente não tinha ideia do quanto minha vida iria mudar por causa do prêmio.
Em dezembro daquele ano, me chamaram para um evento em São Paulo. Seria a segunda vez na cidade, porém agora para algo técnico, ou de trabalho por assim dizer. Um evento com os MVPs do Brasil. Não preciso nem dizer que fiquei encantado com tudo que estava acontecendo comigo naquele ano.
Pouco antes de ir pra São Paulo houve o MVP Summit em Seattle na sede da Microsoft e nem foi a primeira vez que fui na sede deles. Fui duas vezes aquele ano, e com eles pagando tudo! O time do Windows Insider ficou tão feliz de eu ter ganhado o prêmio MVP que pagaram minha passagem para Seattle.
Teve um evento, no antigo escritório da Microsoft aqui em São Paulo, na Berrine. Vista privilegiada da ponte estaiada. Não conhecia absolutamente ninguém. A comida estava boa, e um maluco chegou pra conversar comigo. Eu mostrei pra ele alguns projetos e algumas coisas que eu estava fazendo e ele explodiu minha cabeça mostrando como eu poderia fazer bem melhor e mais fácil (especialmente a parte de gestão de código e código limpo).
Ele provavelmente vai descobrir por esse texto que, naquele momento eu entendi que eu estava aprendendo e ganhando experiência com coisas que estariam acabando muito em breve. Entendi que eu não iria nunca ter tido essa oportunidade de ter esse papo cabeça com algo novo na situação que me encontrava. Talvez a melhor maneira de explicar é que naquele momento eu senti que o mundo estava na minha frente e eu estava livre pra ir atrás dele. A mentalidade que me fazia ficar okay no interior de Minas e do Espírito Santo, não estava mais presente ali.
Dois anos depois eu criei uma comunidade em Cachoeiro chamada Outsiderz, justamente para tentar levar esses conhecimentos e essas “explosões de cabeças” para lá. Foi bom enquanto durou.
Tempos depois a Microsoft decidiu que o prêmio MVP seria destinado só para desenvolvedores e pessoas de infraestrutura. Quem era focado em consumidor (meu caso, era na categoria Windows Experience), iria ficar sem receber o prêmio.
Mas, o time do Windows, especialmente o time do Windows Insider, falou “essa galera é importante pra gente, não coloca eles pra fora assim não”. Criaram o próprio prêmio: o Windows Insider MVP.
O Microsoft MVP é regional, tem lideres nas regiões globais. Tem uma divisão inteira na Microsoft para cuidar do prêmio. O Insider MVP não. O contato nosso não era com a Microsoft Brasil, e sim com a sede lá em Seattle (ou com a Corp para os mais íntimos) diretamente sob o próprio time do Windows.
Estávamos nas nuvens. E não era por usar o Azure, era por estar tendo uma experiência muito mais próxima com o time de desenvolvimento. Tínhamos as melhores sessões no Summit, ganhávamos os melhores brindes, todo mundo queria ser Insider MVP. Teve várias pessoas extremamente importantes para fazer isso acontecer - alô Dona Sarkar, Jeremiah Marble e Joe Camp! Vocês são fodas!
Mas mais importante pra mim naquele momento, foi a construção de comunidade. A troca de ideias, tudo. Foi uma escola para o que eventualmente ia descobrir como profissão: developer advocate. E sim Dona Sarkar, seu keynote no Amplify 2016 (que eu vi pelo YouTube só) é meu guia de como lidar com comunidades e fazer o meu trabalho.
Anos se passaram e meu relacionamento com o prêmio foi se esfriando. Esta é a verdade. Durante um tempo me questionava se realmente fazia sentido continuar no prêmio. A Microsoft falava que sim, e eu só agradecia.
Em 2019 eu passei por alguma situações complicadas, depressão pesou. Não vou entrar em detalhes aqui, mas eu precisei tirar coragem de onde não havia. “Coragem, não se atreva a falhar comigo agora”. Especificamente em Março, fui para Seattle para o MVP Summit. Eu sabia que quando chegasse em casa após o evento acabasse, eu não iria gostar. Não era o que eu queria, não era o que eu gostava.
Alguns meses antes, eu conversei com alguns MVPs amigos mais próximos (um tal de Angelo), que me falou pra mandar currículo pra empresa que ele trabalhava e vir morar em São Paulo. Mandei, conversei bastante com a recrutadora e não rolou. Tudo bem, não era pra ser.
Teve uma noite, no Summit, que estávamos saindo de algum open bar, um grupo de pessoas grande. Maioria era da Lambda3. Dentro deste grupo estava o Giovanni Bassi. Eu precisei de um tanto de coragem pra perguntar pra ele como poderia trabalhar na Lambda. A coragem não era por ele ser um dos donos da empresa ou por ser O Giovanni Bassi famosinho no Twitter ou por qualquer outra coisa. Cada célula no meu corpo estava contra mim naquele momento, pois ali eu estava indo atrás de sair da situação que estava.
É claro que não é um “ah, vem trabalhar com a gente” e saí dali contratado (queria? queria! mas não é bem assim o mundo, né mesmo?). Passei por todo o processo seletivo e consegui entrar. Mas foi aquela conversa que me tirou o medo de me aplicar pra vaga e de me mudar, de entender salários, cargos e o mercado.
Meses antes eu tinha mandado para outra empresa, já sabendo da possibilidade que tinha de chamar o Giovanni pra conversar sobre a Lambda3, mas porra… é a Lambda3, eu não era bom o suficiente, saca? Esse era o sentimento. Eu podia já queria ter mandado o currículo muito tempo atrás.
E não, eu não fui mandar o currículo até meses depois da conversa. Eu estava apavorado e em uma situação delicada na minha vida pessoal. Estou contando essa história toda para dizer que naquele momento, se não fosse a conversa que tive com o Giggio, eu estaria até hoje no interior do Espírito Santo, e minha vida seria outra - e prefiro a vida que tenho hoje.
Em junho de 2019 me mudei pra São Paulo, consegui o emprego, e daí foi só dando bom (com percalços no caminho, claro). Consegui superar os traumas pessoais que ficaram em 2019. Consegui ver o que a comunidade de desenvolvimento fez comigo tanto a nível profissional quanto a nível pessoal.
O prêmio que recebi, por causa do Windows Insider, permitiu tudo isso. Claro, teve muito de mim e de circunstâncias ao redor, mas foi o prêmio que me colocou aonde estou hoje. Que me fez ser a pessoa que se dedica pra comunidade, pra inclusão, pra diversidade, pra mentorar quem está começando. Pra ter uma carreira focada nisso. Eu tenho plena certeza que esse prêmio mudou a minha vida, e sou eternamente grato.
Parecia lógico que aquele e-mail seria o fim do programa. Em alguns sentidos, minha história estava atrelada ao prêmio. Quando eu precisei descobrir quem eu era, pra onde iria, o que precisava fazer, eu recebi o prêmio. E agora, quando finalmente consegui entender o meu papel nesse mundo, minha carreira tem um rumo que se alinha ao meu propósito de vida, tirar o peso da síndrome do impostor… na boa, é poético.
Ele esteve comigo durante todo o tempo que eu precisava, e nada mais. Novamente, fico feliz por ter ficado no prêmio do início ao fim, por ele ter marcado a minha vida.