Contribuir com o opensource é ir em direção ao impacto coletivo
Em um tweet recente, o William Oliveira (@1ilhas) levantou uma pergunta provocativa: "Já parou pra pensar o tanto de 'débito técnico' que deve ter dentro da node_modules do seu projeto?"
Essa indagação despertou em mim uma série de reflexões que já estava aqui no subconsciente como uma granada prestes a explodir. Assim, para mim é algo que sempre foi obvio, mas, pelo menos não sinto que a comunidade de pessoas desenvolvedoras no Brasil, que está sempre atolada de tarefas e uma sprint que quase mal entrega, perto de ter um burnout e surtando com a síndrome do impostor pensa: e se nós, como devs, dedicássemos mais atenção aos pacotes que utilizamos e também contribuíssemos ativamente para eles? E se, em vez de aplicarmos soluções paliativas para resolver problemas em nossos projetos, buscássemos a fonte e trabalhássemos em sua resolução ou, pelo menos, documentássemos nossas descobertas? (Uau, foi tanto pretérito imperfeito do subjuntivo que fiquei impressionado comigo mesmo)
Afinal de conta, nos pagam bem (deveriam, se não fosse essas demissões em massa, mas abordarei isso alguns parágrafos abaixo), esse tipo de pensamento e de solução deveria ser entregues juntos. Pelo menos eu quando peço um salário considero que esta é a qualidade do que entrego. E isso não deveria ser uma visão mais sênior, há muito que um júnior ou sandy possa contribuir.
Imagine o impacto que poderíamos gerar se abandonássemos o foco exclusivo em nossos projetos específicos e começássemos a resolver problemas diretamente na raiz, nos projetos de código aberto. Ao fazer isso, estaríamos ajudando não apenas a nós mesmos, mas também a toda a comunidade.
Contribuir com o desenvolvimento de pacotes open source é uma maneira poderosa de reduzir o débito técnico de todo mundo e de causar um impacto significativo no mundo de alguns devs, em diversos projetos, pequenos e grandes, de empresas de tecnologia, ou não mas consequentemente no mundo da tecnologia, que por sua vez impactar o mundo como um todo.
Quando nos envolvemos na resolução destes problemas, estamos ajudando a outras pessoas a não enfrentarem os mesmos obstáculos. Isso libera elas para se concentrarem em questões mais importantes dentro de seus próprios projetos. Além disso, essa abordagem colaborativa fortalece a comunidade de desenvolvimento, promovendo uma cultura de compartilhamento de conhecimento e crescimento mútuo. É um ato de solidariedade tecnológica que transcende o individual e abraça o coletivo.
Tá filosófico demais? Pois é, nunca achei que programação era sobre ciências exatas.
Contribuir para o open source não se limita apenas à melhoria do código. É uma oportunidade para influenciar positivamente outras áreas da nossa indústria. Por exemplo, quando começamos a olhar além dos nossos projetos e nos engajamos em projetos de código aberto, estamos capacitando outras pessoas a enfrentarem desafios diferentes, inéditos. Ao compartilhar soluções, insights e conhecimento, estamos construindo uma comunidade mais forte e resiliente.
Por exemplo, ao aliviar a carga de trabalho relacionada a soluções técnicas temporárias, permitimos que as pessoas envolvidas dediquem tempo e energia a questões como o papel do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo, o Sindpd, e os sindicatos de outros estados, que talvez só esteja agindo agora em relação às demissões em massa, mas poderia ter feito isso antes evitando tantos desempregos com a meta de reduzir o nosso salário, lá quando a situação começou a se agravar.
Além disso, ao enfrentar os desafios tecnológicos de frente, podemos também refletir sobre o impacto da crescente presença de IA generativa e o seu direcionamento futuro. Essas são questões vitais para o nosso setor, e a contribuição para o open source pode ser um caminho para explorar soluções coletivas e avançar em direção a um futuro mais consciente e promissor.
Você é tão responsável pela matrix quanto a pessoa que desenvolveu o ChatGPT, que desenvolve o Windows e afins, pois você pode achar que está em outro mundo destas pessoas, mas estamos todos (e todas) como “carinhas de TI”. Somos responsáveis, e a cobrança chegará em nós (até mesmo das nossas família). Mas é só dar um passo a frente conhecer novas pessoas que você entende o que estou falando.
Fui em um meetup em Campinas, SP, aonde conheci uma pessoa que contribuiu ativamente no código do CERN. Sim, o acelerador de partículas que fez a partícula de Deus. Ele tava lá, comentando sobre os mesmos problemas que a gente, e o impacto que ele recebeu das comunidades open source que possibilitou o trabalho dele no CERN (via código fonte aberto, claro).
Não estamos tão longes assim de quem faz as tomadas de decisões e de desenvolvedores que criam o nosso futuro e impacto social (afinal, somos os próprios). Não creio que são apenas seis apertos de mão na nossa área, deve ser no máximo duas.
A questão de conversar sobre a importância da contribuição para o open source é só o primeiro passo. É hora de agir. Reserve um tempo para explorar projetos de código aberto relacionados às suas áreas de interesse. Reserve esse tempo na hora que você está estimando uma tarefa para a sprint, por exemplo, pois acredito piamente que você deveria ser pago para isso. Identifique problemas, sugira melhorias, escreva documentações claras e compartilhe suas descobertas com a comunidade. Cada pequena contribuição importa e pode ter um impacto duradouro.
Além de encorajar a contribuição para projetos de código fonte aberto, gostaria de convidar você a fazer parte da GitHub Open Source Community. Somos uma comunidade de pessoas tecnologistas apaixonadas por código aberto e colaboração. Participamos de eventos presenciais onde compartilhamos conhecimento e promovemos o networking entre os participantes.
Queremos criar um ambiente acolhedor para troca de experiências e aprendizado contínuo. Embora não sejamos oficialmente afiliados ao GitHub, recebemos o apoio da empresa para os coffees dos meetups. Atualmente, estamos presentes em São Paulo/SP, Florianópolis/SC, Salvador/BA e Fortaleza/CE.
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