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Carga de trabalho vs vida cotidiana

Carga de trabalho vs vida cotidiana

#cotidiano#burnout#opiniao#politica
por vítor norton, em 20/04 às 00h00

Carga de trabalho vs vida cotidiana

Estou a 27 dias sem um trabalho formal (no momento da escrita deste post), mas não parece que estou atoa. Sabe aquele exemplo de não deixar os pratos caírem? A ideia de um malabare equilibrar vários pratos em hastes verticais, mantendo eles girando simultaneamente, me fascina pois é a melhor maneira de explicar o que tá acontecendo.
São 27 dias que não tenho 8h do meu dia reservado para uma empresa. São portanto 24 horas da minha vida livres para ajudar a manter o equilibro de todos os prato, mas mesmo assim, me pego com mais de 5 ou 6 compromissos na minha agenda em um dia e cheio de obrigações para resolver. Viver já é um trabalho, viver deveria ter um tempo a se considerar.
São 8 horas de sono, 8 horas de trabalho e 8 horas livres. Essa é a logica propagada, mas como eu disse, viver é trabalhoso, não deveria vir do tempo das 8 horas livres a burocracia que é viver.
Coisas simples, como tomar a próxima dose de vacina, pedir reembolso do plano de saúde, trocar uma lâmpada, levar algumas coisas no correios, comprar aquela fita adesiva que você esquece de comprar quanto está na rua, ou fazer uma cópia extra da sua chave de casa. Burocracias como correr atrás do diploma da faculdade que ficou lá e até agora, anos depois de me formar, não fui buscar.
Até mesmo coisas mais complexas, como lidar com o furto de seu aparelho celular e ainda tentar manter o mesmo número, até olhar pra sua casa e ver que os móveis poderiam estar em uma posição que favoreceria ainda mais ou o seu descanso ou o trabalho.
Fui completamente tomado por essas pequenezas da vida neste mês de Fevereiro. É cansativo, e mesmo eu não sendo a pessoa que deixa tudo pra depois, acumulou.
Este relato mostra como a vida cotidiana pode ser repleta de tarefas e compromissos que consomem e energia, mesmo quando não se tem um trabalho formal em período integral. Mostra que a carga de trabalho não se limita apensa ao tempo em um emprego, mas também inclui as atividade cotidianas necessárias para manter uma vida equilibrada e saudável.
A diferença portanto, é que num emprego você é pago, estas coisas da vida você gasta dinheiro ao invés de receber por isso. Mas aí que tá a questão: deveríamos receber por isso. Estamos tentando manter o status de cidadão, de se proteger (vacina) e de manter a nossa integridade mental/física perante o trabalho pago.
O fato de correr atrás do diploma da faculdade não é algo que eu sou remunerado para isso, mas eu preciso desse diploma para às vezes conseguir a emissão de um visto de trabalho ou para conseguir entrar em uma empresa. Ser remunerado por ele não é a condição direta, e sim indireta. O fato de ter o diploma, abre algumas portas - concorde ou não, a verdade é essa -, portas que remuneram em algum momento, ou você fez faculdade atoa?
Ter a cópia extra da chave é pra evitar que se um dia eu sair sem ela, ou perder, eu posso entrar na minha casa sem abater do meu salário o trabalho do chaveiro, e sem ficar pelo menos 3 horas trancado fora enquanto poderia estar exercendo a minha profissão.
Com isso da pra entender que as tarefas do cotidiano não são remuneradas diretamente mas elas são sim importantes para manter você funcionando, tanto como pessoa ou recurso numa empresa - como eles gostam de chamar.
Isso ilustra a necessidade de se repensar a carga de trabalho, não apenas em termos de horas trabalhadas, mas também em relação à qualidade de vida e ao bem-estar dos trabalhadores. Isso significa considerar não apenas a quantidade de horas, mas também a distribuição destas horas ao longo da semana, permitindo que as pessoas tenham mais tempo livre para lidar com as tarefas e obrigações da vida cotidiana. É por exemplo, permitir o funcionário - ou como os chefes gostam de chamar, colaboradores - de escolher um dia da semana para não executarem as tarefas relacionadas ao trabalho formal e sim as da vida.
Já há vários estudos que mostram como isso melhoraria a qualidade de vida e produtividade no trabalho, além de reduzir os níveis de estresse e esgotamento que tem tanto afetado as pessoas nos últimos tempos.