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Minha experiência como Dev Relations

Minha experiência como Dev Relations

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por vítor norton, em 14/02 às 00h00

Minha experiência como Dev Relations

Quando comecei esse cargo novo na Lambda3 eu recebi inúmeras mensagens e comentários, e pessoas me seguindo, querendo saber mais sobre o trampo. 5 meses se passaram e aqui vai a minha experiência.
Mas antes, quero deixar claro duas coisas:
  • Foi pouco tempo, nunca pensei que seria uma experiência rápida. Estava (e estou) com muito conteúdo sobre para compartilhar com vocês, mas o ciclo dentro desta empresa se finalizou, junto com ele essa experiência que está em pause (explico os motivos já, já).
  • Continuo amando, respeitando e indicando a Lambda3. É uma experiência incrível estar lá e toda a troca de conhecimento que existe. Realmente uma empresa diferenciada e que cuida das pessoas. A minha saída não foi em momento nenhum por desentendimentos ou por parar de acreditar na empresa.
Ok, sabendo disso, dá para seguir no texto.
Ter o seu nome atrelado na marca é sempre um pesadelo, vestir a camisa da empresa já é algo perigoso que não acho que deve ser encorajado (o sentido figurado, as camisas da empresa são legais sim, mas no sentido de defender como se fosse uma religião ou time de futebol).
Nunca me importei com carregar nome de empresa junto ao meu os as consequências que isso me traria, afinal, tenho sido MVP por 7 anos e basicamente quando falam de Windows perto de mim todo mundo já olha para mim achando que vou criticar ou comentar algo sobre (e vou).
Numa das minhas primeiras conversas com uma pessoa da empresa, lá em 2019, na semana que entrei, ele me dizia de algumas situações não tão confortáveis que algumas pessoas da empresa passaram simplesmente por estar carregando o nome da empresa na mochila ou coisa do tipo. A Lambda3 é muito bem-vista no que diz respeito à diversidade, inclusão e respeito. Pautas essas que chamam de “esquerda”. A “direita” fica furiosa. Não sei se estás situações foram verdadeiras ou foi só conversa fiada, não importa. Era um desejo passar por isso. Sou maluco, nunca disse que era normal.
Até que eu passei. Tempos atrás fiz um tuíte infeliz. Errei. O tuíte não estava condizente com algumas práticas da empresa. O erro é humano e há todo um debate se como Dev Relations eu posso expressar minhas opiniões nas redes sociais pessoais ou se devo me limitar e falar só sobre a empresa e as opiniões dela. Errei, e acho importante assumir isso da mesma forma como a empresa entendeu meu erro e não me despejou por isso (pois poderiam). Mas, debate esse que até aquele dia nunca precisamos ter tido. Algumas coisas precisam estar claras desde o começo, essa é uma delas. Próxima vez que estiver indo para uma posição destas, mais conversas precisam serem feitas.
O infeliz do tuite gerou uma repercussão de um hater. Se você está exposto é importante saber que eles existirão, e na maioria das vezes serão contas anônimas chamando você de covarde, mas eles não colocam a cara a mostra. Bloqueie, segue a vida. As pessoas têm se tornado maduras o suficiente (pelo menos as que você vai encontrar nas empresas que irá trabalhar), para entender que só queriam aumentar a repercussão para ganharem seguidores ou terem um minuto de fama nas costas do outro. Não é pessoal. Nunca é.
Não me importo com haters, com perder um pouco da minha privacidade. Na verdade, até um pouco da minha sanidade. Toda essa repercussão que há sobre o Bruno Aiub, o Monark, eu consigo entender como ele está se sentindo, em proporções muito menores claro. Falou merda, a merda que falou, tem que ser demitido e preso. A situação dele é uma gigante, há leis sobre isso. A minha é menor. Porém qual o limite? Onde é essa divisão? Não é só sobre o que está escrito nas leis nacionais, é? Vale pensar. E esse pensamento me custa a sanidade, de as vezes ter empatia e por consequência: pena dele. Mas, sabendo ou não, ele tinha responsabilidades e por sua vez, consequências. Percebe o quão maluco é isso? A minha treta não durou nem 5 minutos e foi por algo tão infame, a dele… bem, se você não viu, em que internet você está? Esse tipo de questionamento me faz perder a sanidade. Em Dev Relations isso pode acontecer.
Tanto é que, não pretendo compartilhar sobre a empresa que eu vou, pois estarei numa atuação bem técnica e longe de comunidades. É só um job. Não preciso levar o nome da empresa comigo, não preciso carregar tudo nas minhas costas, não desta vez, não por agora.
E isso é uma parte importante, durante todo o período que estive na Lambda3 (quase 3 anos), eu sempre fiz mais do que deveria. Nos últimos 5 meses também. Sempre carreguei mais do que deveria. Como alguém que sabe que faz parte das comunicações entre desenvolvedores de uma empresa, é preciso traçar uma linha. É uma linha perigosa, pois talvez o que você está fazendo realmente não é do seu departamento. Além disso, ações pessoais não podem ser confundidas com ações da função.
Organizar festa da firma? Bingo da firma? Nada disso é de Dev Relations, e ao mesmo tempo é.
Cuidar para que as pessoas tenham uma experiência boa de onboarding na empresa? Totalmente Dev Relations.
Cuidar para que mulheres, negros, LGBTQIA+, PCDs, periferia, dentre outros, tenham oportunidades iguais que homens héteros cis e brancos? Muito Dev Relations.
Mas não precisei fazer nada disso sozinho, boa parte a área de pessoas já tocava. Qual é a minha função nestas ações então? De novo, é preciso desenhar e conversar muito bem sobre o escopo do trabalho.
Mas vamos ao que interessa, comunidades técnicas, employer branding (ou no famoso português: marca empregadora).
Se você é parte de alguma comunidade de corte social você será mais empático, será mais colaborativo. E é lindo trabalhar com essas comunidades. Quando se está fazendo um curso é nítido o quanto essas pessoas querem se ajudar e serem colaborativas.
Agora, sobre tentar adentrar comunidades não diversas. Querer participar do rolê, fazer ações juntos e o escambau, bem… parece um adolescente querendo entrar na panelinha dos fodões do ensino médio. Causa perdida. É patético. Melhorem!
Isso dificultou muito o trabalho. Parte também do motivo de sair, a síndrome do impostor era grande. E se meu trabalho fosse medido sobre as comunidades que participo? São poucas. É só entrar no Telegram ou no Discord e já estou participando de uma comunidade? Não sei. E não saber é fatal quando se tem síndrome do impostor. Você, como Dev Relations, não entrega código por entregar, então não tem como metrificar e as vezes ter algo palpável da sua entrega. Fui é bom o suficiente? Nunca saberei.
Boa parte era a tal da marca empregadora, está virando buzzword isso, né? Então, como vou chamar alguém para trabalhar na empresa sendo que as vezes estou no meio de uma conversa difícil, um desânimo por si só, um momento não tão bom na minha vida, ou simplesmente achando que está todo mundo contra mim? Com que cara eu saio nas ruas virtuais falando o quanto é bom trabalhar lá?
Basta marcar uma entrevista com a Lambda3 e você irá ouvir que “não somos uma empresa perfeita”. E é verdade. Sempre ficou claro que não era e que não era segredo também. E tem horas, devido a posicionamentos meus ou em situações particulares, onde a imperfeição virou desmotivação. Não é mentira que a empresa é boa, mas não é todo dia que você está querendo dizer isso, pois as vezes, só as vezes, é ok ver a empresa e achar que não está bom.
Aconteceu numa gravação de podcast. Uma amiga vinha como convidada, fazia tempo que não conversava com ela. Os participantes atrasaram e eu e ela estávamos sozinhos na sala. Conversas aleatórias viraram desabafo. Eu já estava baqueado de uma situação que havia ocorrido no dia. Quando vi, cancelei a gravação e preferi gastar aquela noite com a minha parte humana e com minha amiga. A gravação ocorreu num outro dia.
Não há pique para isso. Não sei esconder na voz e as feições quando não estou bem. Como host de um podcast técnico em uma das principais comunicações da empresa, eu não poderia gravar naquela condição, pelo menos não saberia como.
Então assim, Developer Relations não é brincadeira. Não é algo que deve ser barato para as empresas, pois exige muito do emocional e da saúde mental do colaborador.
Essa é minha experiência. Claro que tem muito mais, e pretendo falar mais sobre, mas por hora, tenho um emprego novo para entender e fazer acontecer, e uma turma na qual começarei a dar aulas. Acredite ou não, após ser diagnosticado com burnout, isso parece ser a solução. Ser só um dev por hora, sem a parte de relations, é reconfortante. Ficarei meio off no próximo mês.
Se volto a um cargo desse? Com toda certeza! Eu amo cada parte, inclusive as ruins. Eu sou maluco e já estabelecemos isso aqui.