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Um ano se passou, uma nova vida

Um ano se passou, uma nova vida

#pessoal#cotidiano
por vítor norton, em 06/12 às 00h00

Um ano se passou, uma nova vida

Eu consigo tudo o que eu quero. Não é arrogância, é fato. Há exatamente um ano eu decidi fazer uma grande mudança na minha vida e me dei um prazo, porque sem prazos não conseguimos fazer nada. Essa minha decisão não foi fácil, precisou de muita coragem, mas aonde eu me encontrava não havia outro caminho.
Havia uma bomba, prestes a explodir. Um cliente que estava fazendo um supermercado com a minha agência na época (devido à junção da vtnorton com outra empresa, acabei herdando o contrato dele), e o projeto estava extremamente atrasado para a entrega sem qualquer motivo; era uma bomba que acabou no meu colo. Eu cuidei desta bomba, vigiei o tempo de explosão, apliquei gelo nela para aguentar o esquadrão antibomba vir, ele veio. Conseguimos entregar a parte funcional, o MVP, a tempo de um processo jurídico, mas alguns tópicos solicitados pelo cliente estavam com prazos inadmissíveis, como por exemplo: um aplicativo ser entregue em uma semana na Apple Store e na Google Play. O app não havia sido desenvolvido ainda. Após explicar todo o processo, agilidade e a maneira como um aplicativo é criado, conseguimos aumentar esse prazo inadmissível para um mês, considerando o tempo que tiraria de folga a partir do dia 15 de dezembro até o ano novo. Caso encerrado, hora de seguir pro próximo compromisso e só falar novamente com ele no próximo ano, visto que coloquei um funcionário para lidar diretamente com ele e se algo chegasse em mim teria que ser bem grave. Inspiro.
Há um ano eu acordei vomitando sangue, assim como todos os outros dias daqueles meses. Eu estava a caminho do Microsoft Ignite, aonde iria fazer uma palestra em um dos palcos principais para diversas C-Levels da América Latina em um dos eventos mais importantes de tech. Se isso não fosse pressão o suficiente, a minha líder na Microsoft Corp veio ao Brasil para ver esse momento, não conseguia respirar. Um áudio apareceu no meu celular, o cliente. Outro áudio, mais um. Vários. Não precisava ser um gênio para, naquele momento, entender que seriam áudios que trariam problemas. Não escutei. Liguei para o meu parceiro de negócios na empresa, antigo dono deste cliente, e ele ignorou minhas ligações. Passei mensagem, somente respostas inválidas durante o dia. Obviamente ele sabia o que estava acontecendo, mas não queria me falar.
Minutos antes da minha palestra tento ligar novamente, com nervos estourando, ignorado. Liguei para as pessoas que trabalham no escritório, todos falando que ele não estava lá. Só tem um detalhe, eu tenho acesso a câmera do meu computador mesmo a distância e podia ver o meu parceiro sentado na mesa dele. As tentativas de comunicação não foram poucas. Se ele queria me deixar concentrado na palestra, não estava dando certo. Se ele queria me ajudar, saberia que eu preciso de informações. A cada minuto que passava era um minuto a mais que o cliente não tinha resposta, e a ira dele estava só aumentando.
A palestra foi um sucesso. Me surpreendi como consigo me manter profissional mesmo em uma situação aonde poderia ter um infarto a qualquer momento. Cheguei no hotel e mais uma vez não consegui falar com ele. Respondi o cliente dizendo que os prazos ainda se mantinham e estávamos em recesso até o fim do ano, atendendo só suportes críticos.
 
O problema? Naquele mesmo dia, pela manhã, o cliente foi informado pelo meu parceiro que o aplicativo já estava pronto e estaria colocando nas lojas na próxima semana. Também foi informado que os ajustes que iriam ser feitos no site somente em janeiro, seriam feitos no decorrer dos próximos dois dias. A raiva foi tão grande que consegui quebrar o meu celular socando-o na parede várias vezes. Meu parceiro no crime, parceiro de negócios, amigo, estava fazendo aquilo comigo. A bomba explodiu. Na mesma noite liguei novamente para ele, que finalmente atendeu. Agiu como se não tivesse feito nada errado e colocou a culpa em mim. Eu não preciso de alguém que me faça sentir tão mal, precisava agir para mudar tudo.
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Em algum momento entre o avião decolar e pousar, defini que mudaria tudo, que a forma como eu estava levando a minha vida não fazia sentido com o que eu queria ser. Publiquei no Instagram um contador de 365 dias aonde estaria, no final daquele período em uma nova vida. Como iria fazer isso?
O começo deste processo foi fácil pois não estava lidando comigo. Mudei logo da empresa, site, visão, nome. Hora de ser mais profissional, ter contratos mais firmes e levar mais a sério minha profissão. Porém, quando esse processo acabou me deparei com a parte difícil: eu.
Coloquei como meta vender meu apartamento, me mudar para São Paulo naquele ano, 800km da minha casa. Essa meta foi colocada com dois motivos: a ambição de estar em uma cidade em que comunidades técnicas não são só palavras bonitas e sim apoio, estudo e humano. A ambição de ir mais longe do que eu já fui na minha vida. De repente a minha cidade estava pequena demais para mim. Mas não sendo hipócrita, o motivo principal, no momento da minha decisão, era de fugir. Fugir de quem não consegue compreender por meios pragmáticos que não se faz um aplicativo do zero em uma semana, e que um AVC não vale um CNPJ. Fugir da depressão, e do que eu descobri futuramente, do burnout.
“Então, se você é tão bom, por que não vai para São Paulo?”, ouvi de um cliente. Minha resposta, honesta, foi: “Porque eu fiz um compromisso com você, e eu honro o que eu falo”. Isso foi em fevereiro, dias antes de encontrar com os profissionais reconhecidos pela Microsoft em Seattle no MVP Summit. Após longas conversas com diversos amigos sobre mercado de trabalho, sobre mudanças e São Paulo, conversas com pessoas que desejam nada além de sucesso para mim, vir para São Paulo se tornou mais do que uma fuga; virou uma ambição de conquistar o que eu vi como meu de direito.
Quando cheguei, alguns clientes – talvez por não entenderem o que é qualidade de software – rescindiram comigo. Não precisava disso. Foi aí que eu precisei criar coragem e avançar na minha decisão de mudar a minha vida. No mesmo dia que encerrei os principais contratos, mandei uma oferta para São Paulo e recebi uma resposta. Logo, estava fazendo entrevista na Lamda3 e concretizando o processo de chegar no meu novo endereço em menos de 20 dias.
Cheguei aqui com uma mala de roupas e só. Tudo o que tinha, vendi; tudo que eu era, abandonei. Novo emprego, nova casa, novo endereço. Não foi difícil dizer sim para a Lambda3, o que não foi fácil foi buscar a coragem de deixar tudo para trás. Medo de abandonar a liberdade de acordar sem um despertador, de dirigir para o trabalho, de deixar o conforto da minha casa, o conforto da família e o conforto de não estar sozinho. Entender que sim, perdi muito, deixei de alcançar voos longos por ter feito parcerias complicadas. Minha missão agora é não deixar ninguém apagar minha voz, não deixar ninguém dizer o que eu posso ou não fazer. Eu sou detentor da minha vida.
Após anos de puro stress e meses de depressão, pude finalmente tomar o controle da minha vida, consegui me dedicar a cuidar da minha saúde mental e física. Assim que cheguei em São Paulo, os vômitos e crises sessaram.
Hoje eu acordei, sem despertador, coloquei Stevie Wonder para cantar enquanto ia para o trabalho (a 5º melhor empresa para se trabalhar em São Paulo pelo GPTW). Tive uma pequena discussão com o meu time, mas diferente de discutir quem está certo ou errado, estávamos interessados em gerar mais valor para o cliente. Uma empresa aonde eu posso ser eu mesmo, com pessoas que entendem o que é comunicação não violenta, não preconceituosa e construtiva. Uma empresa que se preocupa com o seu crescimento pessoal tanto quanto o seu crescimento profissional.
Após um ano, consegui mudar a minha vida completamente, para mim isso só prova que é possível sair de qualquer situação, que é preciso acreditar, agir e por cima de tudo, coragem. Eu posso respirar agora. Eu já não tenho nenhum remorso sobre a minha história, e sim orgulho, por ter tido a coragem e o aprendizado que eu carrego.
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