logo da vtnorton

📰 Outras postagens

Qual a motivação por trás das comunidades?

Qual a motivação por trás das comunidades?

#comunidades#dev#tech#microsoft#cotidiano#devrel
por vítor norton, em 16/03 às 00h00

Qual a motivação por trás das comunidades?

Qual a motivação por trás das comunidades?

O sentimento de cansaço era constante em 2019, todo santo dia tinha um meetup. Eu ia em todos, por dois motivos: para conhecer pessoas novas e por causa comida grátis (não vamos ser hipócritas, né?), não necessariamente nesta ordem.
Dez minutos antes de sair do escritório marcava geral no Microsoft Teams chamando para ir aos meetups, as vezes ia sozinho, mas as vezes ia um pessoal daora. Ia em meetup de kotlin, de Clojure e de várias techs que eu nunca nem tinha visto, e nem me importava tanto em ver. Queria ver as pessoas acima dos conteúdos técnicos ali apresentados.
O que faz uma pessoa abrir a sua casa e receber pessoas estranhas? É bem o oposto do que fomos ensinados a fazer: “Não fale com estranhos”. É estranho pensar que empresas abrem seus espaços, pagam comida, para falar de como eles estão trabalhando, falar dos aprendizados, falar dos perrengues. Empresas tradicionais não são muito de compartilhar com qualquer um, incluindo concorrência direta, algumas das coisas que aprenderam no seu desenvolvimento. Ao passo em que a Apple continua desincentivando seus funcionários a contribuírem com esse movimento, a comunidade técnica tem ganhado cada vez mais força.

Mas por que tanto esforço com comunidades?

Um dos momentos mais marcantes da minha vida foi no último dia de uma viagem que fiz para a Microsoft no qual conheci 9 outras pessoas igualmente entusiastas pela tech que eu falava. Era de uma cidade do interior, eu não tinha com quem falar sobre a próxima versão do Windows sem ser a minha tia que pedia para ajustar a impressora, ela definitivamente não estava interessada em saber como uma nova build poderia fazer o sistema carregar 8% mais rápido em comparação com a anterior e o que fazia essa diferença. Então de repente, na viagem, após uma boa comida fomos nos despedir no hotel. Cada um de um país diferente, EUA, Holanda, Filipinas, República Tcheca, a chance é de que eu não os veria novamente. Entrei no elevador, e estava sozinho, mas não solitário. Uma sensação estranha, mixada com alegria de ter encontrado pessoas que falam a mesma lingua que eu, misturado com uma saudade inexplicável de 9 pessoas que eu conheci somente a 2 dias e tinha acabado de me despedir.
Pode parecer clichê, pelo menos eu me deparo com essa palavra todo dia, mas o nome disso é pertencimento. Algo indispensável para o ser humano.
Quando vamos a meetups estamos indo atrás, não só de conhecimento – ou comida, mas principalmente do pertencimento. É por através dele que vagas são compartilhadas, que dicas de entrevistas são dadas, que se conhece a real cultura das empresas, que sabe das fofocas edificantes (ou nem tão edificantes assim). É onde eventualmente se faz amizades para a vida inteira, ou só para aquela noite. Amizades que podem mudar o rumo da sua vida, ou simplesmente contar uma piada ruim.
Apesar de conseguirmos passar conteúdo digitalmente, a pandemia nos capou de várias formas o sentimento de pertencimento que comunidades de software constroem. Não vejo a hora de ficar caçando de pegar metrô, pegar uma fila gigante na estação Vila Olimpia só para assistir uma pessoa totalmente estranha falar de algo totalmente estranho para outras pessoas igualmente estranhas.

Comunidades locais e comunidades online

Mas não se engane, essa é só uma das formas como a comunidade de software cresce, existem outras igualmente importantes e que não precisam ser presenciais.
Meus primeiros anos como líder de comunidade, e que me deu prêmios pela Microsoft como o Microsoft MVP e o Windows Insider MVP, foram longe da capital paulista. Na verdade, longe de todo mundo que queria falar de techs dotnet. Tive que apelar e contribuir em códigos no GitHub, em tópicos de fóruns na internet. Vasculhava a internet atrás de meetups online de qualquer assunto só para estar em contato com pessoas que falavam de tecnologia. Era uma necessidade.
Pertencimento é uma necessidade humana e é por isso que existe comunidades, é por isso que ignoramos o “não fale com estranhos”.